segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Conto "Tigre monstro" - Bú! Histórias de medo e coragem


Será que a esperteza vencerá o medo?



TIGRE MONSTRO
                                                               
         Era uma vez uma mãe e dois filhos. Moravam em uma casa pequena da aldeia. A mãe era boa cozinheira e por isso tinha sido escolhida para fazer os quitutes dos festejos de casamento do príncipe. Era uma boa oferta. Ficaria três dias fora de casa e as crianças cuidadas pela avó. Antes de partir, a mãe orientou: “Só abram a porta se tiverem certeza de que quem bate é a vovó”. Depois beijou Yoko, a filha mais velha, e Kanji, o pequeno, e seguiu.
         À espreita na estrada perto da casa estava uma terrível criatura. Um tigre Monstro devorador de gente, cujo poder mais impressionante era a capacidade de se transformar, passando a parecer muito com todo tipo de gente ou bicho que quisesse.
         Atrás da cerejeira, Tigre Monstro ouviu as palavras da mãe e percebeu a chegada da avó das crianças. Apesar de não gostar de carne de vó, o Tigre Monstro devorou a senhora em segundos. Vestindo suas roupas, bateu na porta. Yoko estranhou a voz da avó e não abriu a porta. O Tigre Monstro queimava por dentro de vontade de experimentar a carne tenra das crianças.
         Na estrada, um vendedor de doces apressava-se em direção à aldeia quando encontrou o bicho. Este o assustou de tal modo que o fez fugir e largar todas as cocadas, bolos e pirulitos que trazia para vender. O tigre transformou-se em homem e levou os doces até a casa das crianças.
         Um bolo de laranja ainda quente despertou desejo dos irmãos que, depois de tentarem resistir, abriram a porta.
         Ao entrar, o tigre devorou Kenji. Yoko, que estava na cozinha comendo seu bolo, sentiu falta do irmão e avistou o vendedor de doces no corredor.  Seu enorme rabo balança de um lado para o outro. Depois de comer uma criança, a forma primeira do Tigre Monstro se restabelecia em minutos. Vendo que não alcançaria a menina e impedido de mudar de forma por estar de bucho cheio, o Tigre Monstro gritou: “Eu vou voltar e devorar você!”.
         Yoko, correu com toda velocidade que podia. Chegou à aldeia faminta, o coração batendo tão rápido que mal podia chorar. Encolheu-se ao pé da cerejeira que lembrava sua avó. Um homem que vendia ferramentas viu a menina e teve dó. Yoko contou a ele sobre o Tigre Monstro. O homem deu a ela um saco com pregos finos, longos e afiados, e disse que espalhasse como uma arma armadilha perto de sua casa.
         O dia corria depressa e o sol estava a pino, indicando o meio-dia. A menina estava faminta. Por sorte, encontrou um vendedor de feijões que almoçava buscando abrigo na cerejeira. Percebendo a aflição de Yoko, o homem dividiu a comida com a menina, que dividiu com ele sua história. O homem entregou a Yoko um saco com feijões bem pequenos. Assim que  anoiteceu, Yoko voltou para casa. Se pudesse, teria ido a outro lugar, mas estava sozinha e fazia frio.
         Yoko espalhou os pregos ao redor da casa e os feijões do lado de dentro, perto da entrada. O Tigre Monstro se aproximou da casa. Estava descalço, pois escolheu vir em sua forma habitual. Espetou as patas nos pregos e, mesmo com dor, avançou em direção à casa da menina. Ao chegar, arrombou a porta com um só solavanco e desabou de vez ao escorregar nos feijões. O Tigre caiu de mau jeito, ficou muito dolorido, suas patas estavam cheias de espinhos, mas a fome era maior e como seu faro era preciso, o Tigre Monstro encontrou Yoko escondida na cozinha.
         Yoko não tinha como escapar, então olhou para o tigre e disse: “Você não vai me comer crua como sushi? Eu sou bem mais gostosa frita”. O Tigre Monstro ficou intrigado e disse à menina que colocasse o óleo para ferver. O óleo pelava quando Yoko pediu para o tigre olhar a panela. “Será que já está quente?” O Tigre Monstro se aproximou e Yoko  jogou o óleo quente sobre a cabeça do bicho. Enquanto a dor do tigre era maior do que a fome, Yoko fugia. Saiu de casa, passou pela cerejeira e encontrou a mãe, que voltava exausta do trabalho. Ao vê-la, Yoko a abraçou. A mãe aninhou a filha com saudades. No abraço de mãe e filha também estava a saudade da avó e de Kenji, o filho mais novo.


(conto popular copiado das fichas do kit do projeto “Bu! Histórias de Medo e Coragem” – 2013)

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