Para começar a sentir uma pontinha de medo... Um conto do Projeto Bú! Histórias de medo e coragem.
Casa
dos bichos
O
bode não tinha casa. A galinha não tinha onde morar. O cachorro ficava ao
relento. O gato vivia por aí. A casa da cobra era ela se enrolar toda para
dormir.
Um
dia, o bode chamou os outros bichos e avisou que havia encontrado uma casa
abandonada no caminho para o açude. O bode, a galinha, o cachorro, o gato e a
cobra adoraram a ideia de ter uma casa. “Vamos passar a noite aqui para ver se
a casa é boa”, sugeriu o cão. O bode entrou pelos fundos. A galinha entrou pelo
vitrô do banheiro, voando torta e desengonçada. O cachorro entrou pela porta da
frente, que estava só encostada. O gato entrou por um buraco de telha quebrada,
a cobra, entrou pelo cano que dava acesso à pia da cozinha.
A
casa era uma maravilha! Anoiteceu. Choveu. Fez frio. A bicharada animada
dormia. Era noite alta quando um bando de homens encapuzados entrou na casa. Esconderam
ali muitos sacos de ouro que haviam roubado de dia na cidade. Eram homens perigosíssimos.
O primeiro era forte como um gorila. O segundo era esperto como uma águia e o
terceiro era cruel como um urubu.
Traziam em seus bolsos facas e canivetes afiados.
O
bode dormindo abriu o olho, mas ficou parado. A galinha quis gritar, mas o cachorro
impediu. O gato saiu da casa em passos leves e observou tudo do telhado. A
cobra enrolada sobre um sofá estampado na penumbra da noite parecia uma
almofada. Os homens beberam a noite inteira festejando os malfeitos que
cometeram de dia.
Amanheceu.
O bode chamou a bicharada e disse que precisavam se defender. A galinha mostrou
as esporas e o bico e disse que, apesar de desengonçada, voava um pouco. O
cachorro mostrou os dentes e disse que podia ver no escuro e saltar. A cobra
não era venenosa, mas disse que também poderia esmagá-los com sua força. E o
bode? Além de ter boas ideias, o bode dava cabeçadas fortíssimas.
Anoiteceu.
A bicharada toda estava na espreita quando chegou o bando. Na casa escura, o
bode derrubava quem entrasse na casa com suas cabeçadas. A galinha voava
barulhenta, bicando e esporeando os homens como podia. O cachorro mordia com
força até aqueles que tentavam se esconder. O gato arranhava os homens saltando
em suas costas. A cobra esmagava quem estivesse exausto.
Amanheceu,
a homarada chorando, reclamando de dor em tudo quanto era lugar. Para piorar a
situação, o cachorro chamou um policial e levou até a casa. Era um homem fraco
e magro como um gafanhoto e amigo como um cachorro. Assim que o homenzinho entrou
na casa o bando se jogou a seus pés! “Leva a gente daqui, seu policial, por
favor!!! Essa casa é assombrada!!”
E
o pior é que, com assombração, de nada adianta faca e canivete! Porque não
adianta matar quem já morreu. E juntos eles contaram: “Aqui mora uma mulher que
com um soco só derruba um homem. Os ossos dela são como espetos, cada cotovelada
dela pode até furar! E o pior, ela tem asas e pode se ouvir o estrondo de seu
voo pela casa. E isso não é tudo! As unhas da criatura são tão finas e ela
arranha pelas costas, ninguém consegue saber por qual lado ela ataca! E depois
de tudo, a assombrada senta como um traseiro gordo em nossos corpos, deixando a
gente sem ar!”
“É.
Ninguém merece”, disse o homenzinho. É prá já! O bando todo foi a pé até a
cidade, o ouro voltou para seus donos, o homenzinho virou herói, e na casa
perto do açude, cinco bichos vivem tranquilos e dormem cada noite bem dormida
que é mesmo uma beleza.
(COPIADO
DAS FICHAS DO PROJETO “BU! HISTÓRIAS DE MEDO E CORAGEM!”)
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