E lá vem história...
NOITE
DE SEXTA-FEIRA
Estava
escuro. No meu quarto tudo parecia iluminado pela luz dos carros que entrava
pela janela. Eu podia ouvir meu coração batendo tão forte que sentia a pulsar o
corpo inteiro. Me cobri até a cabeça. Nada adiantou. Pensamentos assustadores
faziam minha cama parecer a boca de um monstro ou um barco no mar à noite.
Pensei
que, se pelo menos dormisse, o mundo se acalmaria quando eu começasse a sonhar.
Meu sonho poderia ser leve. Percebi. Era ilusão. No quarto ao lado, minha avó
roncava tão alto quanto um Rocáustico do Atlântico. Era o pior mamífero que eu
já tinha visto na vida. Na verdade, vi apenas no livro de ciências da minha
irmã, mas pela ilustração era a pior espécie sobrevivente na terra. Se eu
sonhasse, o ronco da minha avó traria o Rocáustico do Atlântico. Era o pior
mamífero que eu já tinha visto na vida. Na verdade, vi apenas no livro de
ciências da minha irmã, mas pela ilustração era a pior espécie sobrevivente na
terra. Se eu sonhasse, o ronco da minha avó traria o Rocáustico para o meu
sonho. Foi só pensar nele que comecei a suar frio.
Minhas
mãos tremiam. Lembrei que, ao amanhecer, o fatídico sábado chegaria e eu teria
enfim que telefonar para Júlia, para marcar a reunião para fazer a o trabalho
de matemática. Júlia era bonita e inalcançável como um pássaro raro, e
matemática era difícil como areia movediça.
Ao
pensar em Júlia quase chorei. Não fosse minha mãe entrar no quarto de repente. Estava
descabelada, de pijama e trazia nas mãos um copo. E nele o antídoto. Quente. Vi
a fumaça saindo do líquido branco. Tomei. Senti o calor invadir minhas veias
lentamente até atingir um estado de desmaio quase mortal. Agradeci a ela antes
de me entregar completamente.
“Mãe,
obrigado pelo copo de leite.”
(copiado das fichas do
projeto “Bu! Histórias de Medo e Coragem” – 2013)
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