Sssshhhiiiiiiii.... Lá vem outra história!
CABAÇA
ENCANTADA
Era
uma vez uma menina e uma cabaça. A menina era teimosa demais.
A
cabaça era encantada. Diziam que era a última cabaça do mundo, por isso era
gigante e ficava no sítio do senhor Benedito. Todo dia a menina desdenhava da
história da cabaça mágica. Ia até ela sozinha e com um pedaço de pedra riscava
a cabaça toda. Desenhava, escrevia e desdenhava. A cabaça não gostava, mas sem
espelho não percebia a zombaria da menina. A menina também não se dava conta de
que a cada dia a cabaça aumentava de tamanho.
Um dia, a menina foi até o sítio do seu
Benedito. Estava riscando a cabaça que já estava gigantesca, quando de repente
a cabaça caiu do pé e saiu rolando na direção da menina. Quanto mais a menina
corria, mais rápido a cabaça rolava. Rolava cantando pois, como eu disse, a
cabaça era encantada.
“Ô Jesuína, o tamaráta tandarumã
mandou dizer que até nos fins dos mundos, onde ôce for eu vou te comer”.
A
menina correu a tarde toda e à noitinha, chegando em casa, fechou a porta
deixando a cabeça cantando lá fora e contou à mãe o que acontecera. A mãe disse
para Jesuína que uma hora a cabaça ia se cansar, que esperassem. Mas um mês
depois a menina já não saía de casa com medo da cabaça gigante e aquele canto
terrível não cessava, dia e noite.
A
mãe se lembrou de uma tia feiticeira que a menina tinha e foram imediatamente
consultá-la. A mãe corria de braço dado com a filha e atrás delas a cabaça
cantava, rolando a toda velocidade.
“Ô Jesuína, o tamaráta tandarumã
mandou dizer que até nos fins dos mundos, onde ôce for eu vou te comer.”
Chegaram
na casa da tia. Com muito custo, a tia se lembrou do
feitiço-quebra-encanto-pra-cabaça. Mas a ação era arriscada, não se podia
prever a reação da dita cuja gigante. Conversaram e decidiram começar o
enfrentamento, porque a cantoria fina já estava fazendo tremer o esqueleto de
Jesuína, sua mãe e sua tia.
A
tia de Jesuína pegou o maior espelho da casa e afrontou a cabaçona . A cabaça
então se viu. Pintada, rabiscada, num destroço de zoação de menina do começo ao
fim. Aí a bicha cresceu, aumentou dez vezes de tamanho. Ficou roxa de raiva,
inchada e furiosa. Cresceu e esticou ainda mais. Seu tamanho tampou o sol e
fez-se noite. A música era alta e grave.
“Ô
Jesuína, o tamatáta tandarumã mandou dizer que até nos fins dos mundos, onde
ôce for eu vou te comer”.
De
repente houve um estrondo, um barulhão. A cabaça explodiu. Logo depois outro
som. Era uma chuva. Chuva das sementes que estavam dentro da cabaça. Chuva não
temporal. Tão forte que espalhou sementes de cabaça por todo mundo. Jesuína
abraçou sua mãe aliviada e juntas caminharam para casa. À noite, ao se deitar,
Jesuína pensou que estivesse ouvindo coisa. Era uma voz fininha e em um volume
minúsculo.
A
menina procurou na casa toda e se deu conta de que se tratava de uma semente da
cabaça encantada que cantava minúscula e raivosinha. Jesuína foi até ao quintal
e plantou a semente. Lá de dentro da
terra ela não ouviria mais a música tenebrosa.
Mas dentro da terra a sementinha cantava abafada e rouca.
“Ô Jesuína, o tamaráta tandarumã
mandou dizer que até nos fins dos mundos,onde ôce for eu vou te comer.”
Quando
amanheceu a cabaça já estava crescida. Viu
a filhote da cabaçona e resolveu agir enquanto era tempo! Pegou uma faca e partiu a cabaça ao meio.
Cada metade de cabaça a menina fixou em um pedaço de madeira. Era o primeiro
Berimbau da terra. E podia se ouvir o som da cabaça a cantar... E as outras sementes?
Elas deram origem a objetos diversos pelo mundo todo. Calimba, chocalho... O
encanto da cabaça era vontade de cantar camará, de explodir seu som por aí. Alto
ou baixinho, na capoeira dá para ouvir.
(copiado das fichas do kit do
projeto “Bu! Histórias de Medo e Coragem” 2013)
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