segunda-feira, 4 de agosto de 2014

                   
                    A IMORTALIDADE DAS PALAVRAS


Imortal. Palavra que descreve bem o sentimento que fica em nossos corações pelo falecimento de nossos grandes autores neste mês de julho. Triste mês para a Literatura brasileira. Fica para nós o legado de Ivan Junqueira, João Ubaldo Ribeiro, Rubem Alves e Ariano Suassuna. 
Neste mês de julho, a palavra imortal esgotou o sentido de “inesquecível”. Quatro gênios da genuína arte escrita brasileira a tomaram por empréstimo em vida, e se tornaram paradoxos na morte. A imortalidade subsiste nas palavras. Perpétuas elas serão, em si mesmas e além, através do conhecimento que transmitiram. E não o contrário. Podemos nos sentir orgulhosos daquilo que ainda podemos beber da inesgotável fonte que esses mestres da literatura nos deixaram, a eles dedicamos este post de nosso blog.
Ivan Junqueira - Jornalista, poeta, tradutor, ensaísta e crítico literário. Ocupante da cadeira 37 da Academia Brasileira de Letras. Recebeu diversos prêmios literários, entre eles o Jabuti, em 1995. Falecido em 3 de julho de 2014. Conhecido também como “o poeta do pensamento”. 
João Ubaldo Ribeiro - Jornalista, escritor, roteirista, professor. Ocupante da cadeira 34 da Academia Brasileira de Letras. Recebeu diversos prêmios literários, entre eles o Camões, em 2008. Falecido em 18 de julho de 2014. Conhecido como “o contador de histórias”. 
Rubem Alves – Escritor, educador, teólogo e psicanalista. Autor de diversas obras, entre crônicas, ensaios, contos e livros sobre educação, religião e de literatura infantil. Falecido em 19 de julho de 2014. Conhecido também como “o professor de espantos”. 
Ariano Suassuna - Romancista, dramaturgo, ensaísta, poeta, professor e defensor da cultura do nordeste. Ocupante da cadeira 32 da Academia Brasileira de Letras. Membro da Academia Pernambucana de Letras e também da Academia Paraibana de Letras. Falecido em 23 de julho de 2014. Também conhecido como “o cavaleiro do sertão”. 
O que há em comum entre o poeta do pensamento, o contador de histórias, o professor de espantos e o cavaleiro do sertão? Além de escritores brasileiros, falecidos em julho de 2014 e, à exceção de Rubem Alves, membros da Academia Brasileira de Letras, todos são legítimos protagonistas da literatura brasileira. “São”, não “foram”. Os protagonistas se tornam conhecidos pelos seus feitos e lembrados pelo que são. Porque não há tempo que interfira na sua condição de imortais para os seus leitores. 
Para encerrar esse texto, convido vocês a conhecerem um poema inédito de Ivan Junqueira. 
Em vida, a imortalidade. Enfim, a liberdade. 
Descansem em paz, mestres.


A imortalidade
O que é a imortalidade?
Um sopro que nos carrega
para os confins da orfandade,
onde o espírito se nega
e de si já não recorda
após a última entrega?
Que luz é a que nos acorda
quando a morte, em dada hora,
bate à porta e chega à borda
do ser que se vai embora,
mas crê que não vai de todo,
pois do invólucro que fora
algo fica em meio ao lodo
que lhe veste o corpo morto
com a púrpura do engodo?
E o que cabe ao que foi torto
e nunca exigiu conserto?
Irá chegar a algum porto?
Será que na alma um aperto
não lhe purgou a maldade
quando do fim se viu perto?
O que é a imortalidade?
Uma insígnia, uma medalha
com que se louva a vaidade?
Ou não será a mortalha
que te poupa só a cara
escanhoada a navalha?
Será talvez a mais rara
das obras que publicaste
ou da crítica a mais cara?
Será isto, já pensaste,
a herança em que se resume
o que aos amigos deixaste?
Esquece. Sente o perfume
de algo que se fez distante:
a mão de uma criança, o gume
de seu olhar penetrante
quando viu, no ermo do cais,
que o tempo que segue adiante
é o mesmo que volta atrás
e confunde a realidade,
e a desmantela, e a refaz.
É isto a imortalidade:
esse eterno e estranho rio
que corre em ti e te invade.
E o mais é só o pavio
de um lívido círio que arde
no insuportável vazio
que enche toda a tua tarde.



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